Transformar os veículos de comunicação existentes na internet em meios de forte capacidade para influenciar a opinião pública deve ser um processo rápido. "Em breve, os grandes grupos empresariais tomarão tudo. Mas ainda há um espectro na internet à disposição para consolidar grandes portais alternativos", afirmou o jornalista de TV e blogueiro Paulo Henrique Amorim, durante o debate "O papel dos meios de comunicação alternativos na formação e transformação social", realizado na noite da última segunda-feira na sede nacional da CUT. O debate acompanhou o lançamento da primeira edição do Jornal da CUT.
Ao falar em espectro, Paulo Henrique não se referia à existência de espaço físico na rede mundial de computadores, mas à possibilidade de popularizar páginas virtuais antes que a máquina da indústria do entretenimento e do jornalismo político-partidário sufoque as tentativas. A análise parecia antever que o IG o demitiria no final da tarde desta terça, retirando o blog Conversa Afiada do ar. O Conversa Afiada tinha audiência de 30 mil leitores por dia e mais de 160 mil page views. Nele, o jornalista atacava com veemência a grande mídia e defendia a democratização da comunicação. Veja comentário do presidente da CUT Artur Henrique à demissão do jornalista ao final deste texto.
O debate - No debate da noite de segunda, o jornalista destacou que, por seu baixo custo e amplo alcance, a internet deve ser prioridade para todo o movimento social que quiser construir meios de comunicação alternativos. "Precisamos meditar sobre o uso dos parcos recursos existentes para a construção de uma mídia alternativa", afirmou Paulo Henrique durante o debate.
Artur Henrique, presidente da CUT, dividiu o debate com o jornalista. Em sua fala inicial, Artur lembrou o boicote sistemático dos grandes veículos de comunicação a mobilizações da CUT e dos movimentos sociais. "No ano passado, fizemos manifestações nacionais, na rua, contra a Emenda 3. Em 15 de agosto, reunimos mais de 20 mil militantes no Dia Nacional de Mobilização da CUT. Pouco depois, aproximadamente 50 mil mulheres fizeram a Marcha das Margaridas. No final do ano, houve ainda a 4a Marcha Nacional da Classe Trabalhadora. O espaço que a imprensa deu foi muito pequeno. Mas se tivéssemos reunido 30, 50 pessoas na praça para reclamar do Lula, certamente ganharíamos a capa", disse.
"Essa discriminação nos dá a medida da importância de buscarmos novos meios de comunicação alternativos que possam fazer frente à disputa de hegemonia, principalmente, com esses grandes veículos de comunicação. Este jornal que estamos lançando é parte dessa busca", completou Artur.
Rosane Bertotti, secretária nacional de Comunicação da CUT, mediou o debate. "Este encontro coroa a primeira edição de nosso novo jornal, lançado no ano em que a CUT completa 25 anos e a imprensa sindical comemora seu centenário. A CUT, após anos sem ter um jornal impresso próprio, lança agora esta publicação, que chega como parte de uma nova estratégia de comunicação cutista, tendo em sua essência o conceito de formação de redes. O jornal é um dos elementos dessa estratégia – cujo fator primordial é a integração dos meios – o Portal do Mundo do Trabalho, e a radioweb (rádio transmitida via internet), que em breve lançaremos.
O apresentador da TV Record e coordenador do blog Conversa Afiada destacou a importância de veículos impressos – classificou o Jornal da CUT e a iminente chegada da Revista do Brasil às bancas como "notícias alvissareiras", mas apontou o noticiário virtual e iniciativas como o Portal do Mundo do Trabalho como um salto tecnológico que deve integrar as mídias e que pode, desde já, promover a democratização dos meios de comunicação.
P.I.G. – Parte da fala de Paulo Henrique Amorim foi reservada a ataques contra a concentração da mídia em poucos grupos empresariais e a constante perseguição a quaisquer projetos que apontem para maior inclusão social. "O golpismo é uma tradição da imprensa brasileira. Getúlio Vargas deu um tiro no peito após a avalanche golpista do Assis Chateaubriand, do Roberto Marinho e do Carlos Lacerda. Uma vez entrevistei o Juscelino Kubitscheck, para a Veja, quando era dirigida pelo Mino Carta, e ele me disse que uma das principais razões para a mudança da sede do governo para Brasília foi o fato de ele não suportar mais chegar à ala residencial do Palácio do Catete e ouvir o Carlos Lacerda na rádio Globo, todos os dias, pedindo o impeachment", contou o jornalista.
Listou ainda a queda de João Goulart e o "processo de destruição sistemática da imagem do Rio de Janeiro pelas Organizações Globo para atingir Leonel Brizola. Forjaram um estereótipo do Rio que não é verdadeiro e que até hoje prejudica sua população". Por essas e outras razões, Paulo Henrique passou a utilizar a expressão PIG (Partido da Imprensa Golpista), formulada pelo deputado Fernando Ferro (PT-PE).
Após a fala do jornalista, foi aberta a participação aos presentes. Muitas críticas foram dirigidas à política de comunicação do governo federal – especialmente ao destino majoritário das verbas publicitárias para veículos que o atacam sistematicamente. Na coordenação da mesa, Rosane Bertotti destacou, em comentário sobre as perguntas, que os movimentos sociais têm lutado para construir uma Conferência Nacional de Comunicação, instrumento que poderia formular propostas políticas públicas de comunicação.
O jornalista comentou que não acredita que este ou os governos que o sucederão enfrentem os grandes meios de comunicação. Sobre a divisão do bolo publicitário, Paulo Henrique arrematou: "Esqueçam o governo. Metam o pé na porta e construam uma política de comunicação alternativa com o que têm".
O debate reuniu aproximadamente 200 pessoas – dirigentes, militantes, parlamentares, estudantes de comunicação, assessores e jornalistas sindicais.
Veja a seguir o comentário de Artur Henrique sobre a demissão de Paulo Henrique Amorim:
"A notícia de que o portal IG rescindiu o contrato do jornalista Paulo Henrique Amorim e tirou do ar o blog Conversa Afiada é péssima. Deixa-nos indignados, mas não nos surpreende. Faz parte de um processo de emburrecimento dos meios de comunicação, obcecados por criticar a qualquer preço iniciativas de desenvolvimento nacionalista e propostas de inclusão social. No afã de manipular e boicotar, a grande mídia não consegue conviver com opiniões que vão além do pretenso pensamento único.
Com dose incomum de independência, Paulo Henrique Amorim tem denunciado o chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista) e rastreado suas incoerências.
http://www.cut.org.br/site/start.cut?infoid=16946&sid=6
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