16 de jun. de 2008

Degravação da conversa que derrubou o arquiteto da oligarquia guasca!

Recorte e guarde...

Paulo Feijó — Não é verdadeiro, não é verdadeiro isso aí.
Cézar Busatto — Eu não acredito nisso.

Feijó — No quê?

Busatto — Esse é o modus vivendi de... Do contrário, nós vamos partir para uma situação terrível.

Feijó — Não sei, não sei.

Busatto — (Inaudível) Abrir essa guerra... Tu tens elementos para abrir. Concorda que isso cria uma situação muito ruim?

Feijó — E aí? E por isso eu vou dar suporte a tudo isso?

Busatto — Não, não! Que possibilidade existiria de nós construirmos uma alternativa de entendimento? Não no entendimento no sentido... Sei que essa pergunta... tem tanta coisa pendente porque tem um passivo que não se resolve nunca mais, né? Mas eu pergunto: para evitar uma ruptura mais definitiva (inaudível)? Se houvesse essa possibilidade, que condições tu exigiria para isso?

Feijó — Eu já disse desde o início, não tenho condição nenhuma. Eu só quero, como vice-governador, poder participar das decisões de governo. Eu não quero cargo, não quero secretaria, então "Ah, eu demonstro que não tenho interesse". Eu não tenho interesse por cargo nem por nomeação nem por secretaria nem por nada. Eu só quero participar, poder participar, eu não quero que as coisas sejam feitas de acordo com o que eu defendo, não, mas eu gostaria, como vice-governador, de sentar numa mesa e discutir como a gente discute. Tomada a decisão em conjunto, é essa a decisão. Agora, eu quero entender o seguinte: por que encobrir o Detran? Se sabia, antes de eu entrar na política nós já sabíamos que existia esse esquema no Detran. Todo mundo sabia, era público. Por que não querer mudar? Desde 2003 eu sei que existe uma quadrilha no Banrisul. Por que não querer mudar?

Busatto — E por que quando (inaudível) segundo turno, como está sendo hoje com o Rigotto, (inaudível) conviveu com essas duas situações casualmente?

Feijó — Por quê? Porque quem era eu, Busatto? Por que não fui com o Rigotto? Quem era eu? Eu era um empresário médio do Rio Grande do Sul, presidente da Federasul. Eu vou bater de frente com o governador do Estado? Com um secretário de Estado? Que espaço eu tinha na mídia? Ou que respaldo eu tinha? Nenhum. Zero. Agora, hoje, eu me sinto responsável pelo governo que está aí. Eu fui eleito junto com a governadora, ela querendo ou não, ela gostando ou não. Eu ajudei a eleger ela. Ao menos um voto eu fiz para a chapa, eu trouxe recursos para a campanha, de amigos meus, de empresários que confiaram em nós, que confiaram no discurso da prosperidade, de menos imposto, de menos governo, de menos secretaria. Depois que nós passamos para o segundo turno, deixa o Feijó lá isolado e ele que se rale. Ninguém mais dê ouvido a ele. É essa a reciprocidade que eu tive. A única coisa que eu sugeri, eu não exigi, eu sugeri: "Olha, antes de nomear o presidente do banco eu gostaria de lhe apresentar...", ela não quis me ouvir! Ela não tinha interesse nisso, então cada um que faça as suas interpretações. Por que que ela não tinha interesse em mexer no Detran? Agora, eu digo o seguinte... O Cairoli (José Paulo Dorneles Cairoli, presidente da Federasul), vamos pegar o Cairoli, se ele sabe alguma coisa do nosso governo, que poder ele tem para enfrentar a mim e à governadora? Nenhum, como presidente da Federasul. Nenhum ou muito pouco, vamos dizer assim. Agora, como vice-governador, eu tenho a obrigação, e eu não vou ficar quieto enquanto não mudar ou não demonstrar que nós estamos aí para fazer o que tem que ser feito.

Busatto — (inaudível) Quanto a isso, eu tenho bastante convicção nisso. A governadora, eu acho que (inaudível). Mas eu sinto muito isso em Porto Alegre: um pequeno partido, mas que ganha uma eleição dessas, que precisa governar com maioria para poder viabilizar seu governo, que é um pouco o caso do DEM, que nunca governou o Estado...

Feijó — Sim, não tem base partidária na Assembléia.

Busatto — É. Acaba tendo que fazer concessões importantes. Os partidos aliados são os grandes partidos do Estado.

Feijó — E eu não tenho dúvida disso.

Busatto — Tu pegas tanto o Banrisul quanto o Detran, são alguns...

Feijó — Claro, são os dois maiores. Fora o PT.

Busatto — Tu concorda que (inaudível) o PMDB e o PP.

Feijó — Claro.

Busatto — Então, entre nós, podemos deixar isso claro. Eu não tenho dúvida de que o Detran é uma grande fonte de financiamento.

Feijó — Do PP?

Busatto — Não é verdade? E o Banrisul, com certeza, né, nesses quatro anos. Eu até acho que, de repente, a governadora pode até ter pensado nisso, mas eu te digo uma coisa: dois partidos (inaudível) do Estado, como é que isso? Isso ia ficar insustentável.

Feijó — Hmm, hmm.

Busatto — Então, assim, eu não creio que a governadora seja totalmente responsável por tudo isso, compreende? Quer dizer (inaudível).

Feijó — Sim, é melhor deixar assim, então?

Busatto — E outra coisa: o custo que teria ela ter que romper com Zé Otávio (José Otávio Germano, deputado federal e um dos principais dirigentes do PP gaúcho)... Pedro Simon (senador e ex-governador do PMDB)... (inaudível)

Feijó — Sim, para mim tá claro, ela rompeu comigo e se abraçou com o Simon na época lá, quando ela pediu que eu renunciasse.

Busatto — É, é... mas eu quero te dizer o seguinte: não sei se isso é só uma maldade dela, compreende? Ou...

Feijó — Agora eu te pergunto o seguinte...

Busatto — (inaudível)

Feijó — Busatto, agora eu te pergunto o seguinte...

Busatto — Se tivesse sentado naquela cadeira e, se não tiver 30 votos, mas 27 votos, 28 votos na Assembléia, eu não governo. Entende? É uma opção difícil.

Feijó — OK, politicamente eu concordo, agora, eu não posso ser conivente com isso. Não na questão política, mas com a questão de roubo, desvio. Não pode. E ela está sendo. Por questões políticas? Não sei. Ou por interesse financeiro? Não sei. Ou pelos dois?

Busatto — (inaudível) de se misturar, porque tu sabes, assim, que essa (inaudível). Muitos entraves.

Feijó — Eu sei.

Busatto — (inaudível) ...o foco que tem que ter esse assunto. E o PDT tem suas (inaudível).

Feijó — Ô, Busatto, eu tô num mundo que não é meu. E eu não me acostumo com isso.

Busatto — (inaudível) Tu essencialmente tá certo. Te digo assim: (inaudível) há coisas que tu não faria se não tivesse se inviabilizado. Chega uma hora que isso se torna insuportável (inaudível), isso começa a te (inaudível) tiver doente, doente no sentido de que vai ficar uma contradição (inaudível) a consciência e (inaudível). Tu tá essencialmente certo, essencialmente certo. Não quero nem entrar no mérito dela. Eu conheço e sei que (inaudível), embora a lógica da política, ela é cruel. E eu não sei se ela mudará tão cedo (inaudível) Ministério Público (inaudível). Não sei se é uma boa saída, aliás eu não sei se tem como sair agora disso. É muito difícil essa questão. Compreendo a tua disposição, mas eu acho assim, Paulo, não é uma posição só da Yeda, que tem seus problemas (inaudível). Todos os governadores só chegaram aqui com fonte de financiamento — hoje é o Detran, no passado foi o Daer. Quantos anos o Daer sustentou?

Feijó — Não sei.

Busatto — Na época das obras, (inaudível). Depois foi o Banrisul, depois...

Feijó — A CEEE.

Busatto — Depois a CEEE (inaudível). Se tu vai ver...

Feijó — (inaudível)

Busatto — E é onde os grandes partidos querem controlar. Não querem saber (inaudível). Onde têm as possibilidades de financiamento, pode ter certeza de que tem interesses bem poderosos aí controlando, e é por isso que... por isso que... Então, é uma coisa mais profunda que está em jogo, né? (inaudível) Eu não sei se têm lugares onde se superou isso — acho que sim, né? Países mais avançados, políticas mais maduras, norte da Europa (inaudível). Têm lugares em que a atividade pública é muito mal remunerada, né?

Feijó — Sim. Por idealismo.

Busatto — Por idealismo, por voluntariado, as pessoas não deixam de trabalhar. Tu é deputado mas tu não deixa de ser advogado, tu ganha a tua vida como advogado. Tu dedica uma parte do teu tempo para a República, mas (inaudível). Mas aí, na Europa. Mas aqui nós estamos muito longe disso.

Feijó — Eu sei. Mas tá na hora de começar a mudar, né, Busatto? Mas qual é a tua proposição?

Busatto — (inaudível) Não tem nada concreto. (inaudível). Agora, talvez, nós pudéssemos encontrar um modus vivendi que permitisse tu não romper com as tuas convicções (inaudível). Para tu estar dizendo para ti mesmo, para a tua consciência. Qual é o preço disso? Eu não sei. De repente, o Fernando faz um gesto concreto para ti, não quero pensar alto porque isso não tá no horizonte, né? Mas eu acho que tem que haver alguma coisa concreta que pudesse permitir que... ou outra coisa, quem sabe? (inaudível) Acho que eu estaria disposto a tentar, sei que a governadora é muito complicada, mas, se não for assim, não agüenta esse sofrimento. Se tu não vai abrir mão das tuas convicções... Tu tem as informações. (inaudível) Ela vai pagar um preço alto por isso — talvez mais do que ela merecesse — se tu for ver (inaudível) no Rigotto, no Olívio, Britto... Cada um teve o seu jeito de financiar as coisas. Então assim, eu acho que (inaudível) no Rio Grande. É que na verdade o país inteiro vive esse problema. Então eu queria te consultar se tem um caminho que o governo... (inaudível). Eu gostaria de tentar. Não posso dizer assim: "Ah, pô, não deu certo."

Feijó — Eu sempre estive à disposição para contribuir. Agora, eu estou extremamente incomodado com tudo isso, não é nada do que eu esperava dessa atividade política. Tô aberto a ouvir qualquer proposição ou uma demonstração efetiva de que é para valer, não é para fazer de conta.

Busatto — Por exemplo, assim, uma coisa que me preocupa muito na... (inaudível).

Feijó — Sabe de uma coisa? Eu sempre defendi a federalização, e não a privatização.

Busatto — ...a nossa Caixa, agora. O Serra. Tá vendendo a nossa Caixa para o Banco do Brasil.

Feijó — Eu sei. Mas tu sabe que o Aod, agora, em março, abril, teve aqui falando comigo e veio me perguntar, disse: "Ah, Feijó, quer saber de uma coisa? Eu hoje, avaliando a situação do banco, é insustentável. É insustentável a médio prazo. Eu sou até favorável."

Busatto — (inaudível) ...porque, quando termina as consignações, que é o que sustenta. Tu sabes disso?

Feijó — É. Então ele disse: "Eu sou favorável. Tu apoiaria um projeto deles?" E eu digo: "Eu sempre apoiei, ô Aod". "Não, porque hoje eu estou convencido", ele disse, o Aod. Eu digo: "Eu só tenho uma coisa: eu e a governadora nos comprometemos a não fazer isso no nosso governo, então eu vou cumprir com o que eu defendi em campanha."

Busatto — (inaudível)

Feijó — Não é? Eu me lembro que nós fizemos lá no PSDB, lá no comitê, uma reunião com os diretores, gerentes de banco, e nos comprometemos com isso. Como é que agora nós vamos defender o contrário? E daí ele me disse: "Ah, nos impostos nós já fizemos o contrário." Eu disse: "Então (inaudível), tu levanta essa bandeira, porque eu não vou levantar." Agora eu concordo. Até (inaudível) que o banco vendeu uma participação na Serasa, agora neste ano, e que isso é que deu o resultado que o banco teve no ano, não é?

Busatto — Serasa no...

Feijó — É, Serasa. O Banrisul tinha uma participação no Serasa. Ele e outros bancos. Me parece que foi bastante expressivo o valor apurado no final do ano, e que isso é que alavancou o resultado do banco. Mas, ô Busatto, tu tem muito mais experiência e visão do que eu. (inaudível) estou aberto...

Busatto — Eu te confesso que eu estou (inaudível), é muito complexo de se fazer, mas eu gostaria de encontrar formas, então, de resolver, né — resolver, não é bem isso — , mas que pudesse te dar conforto e, ao mesmo tempo, criasse um modus vivendi, porque eu acho uma loucura o que nós estamos (inaudível), é sui generis, cria uma situação (inaudível) explosiva. Pode acabar dando uma puta crise.

Feijó — Agora, eu tenho uma convicção: se sair uma CPI do Banrisul, seria muito bom para a sociedade, não tenho dúvida disso. Politicamente não sei avaliar, agora, em termos de enxergar a realidade do banco e ver efetivamente se nós, Rio Grande do Sul, precisamos estar pagando esse custo para manter um banco. Afinal, Santa Catarina não tem banco, Paraná não tem banco, São Paulo não tem banco, o Rio, a Bahia, nenhum Estado representativo tem banco.

Busatto — É, eu acho que isso (inaudível). Não sei se uma CPI... Eu acho que o prazo é (inaudível).

Feijó — Mas eu tô aberto, tá, Busatto? Aguardo uma sinalização.

Busatto — Tá, vou pensar com muito carinho (inaudível). Hoje (inaudível) de tarde te ligou (inaudível) a questão da tua... o Sossella (inaudível) a tua convocação para a CPI.

Feijó — É, o Marquinho me ligou quando eu estava vindo da Fiergs.

Busatto — (Inaudível) deselegante (inaudível).

Feijó — Eu liguei para o Marquinho e pedi que ele fizesse aquela intervenção.

Busatto — Eu achei (inaudível) ...que te convoque, né?

Feijó — Inclusive o presidente da CPI, o Fabiano, quarta-feira, antes de eu viajar — porque naquela noite fui para o Uruguai de novo, eu tô com um investimento lá em Punta del Este —, ele me ligou (inaudível). "Se tu vai me convencer que eu tenho algo a agregar, tu me faça um convite que eu vou lá." O Fabiano ficou de me ligar. Aí até me surpreendeu hoje a posição do Sossella.

Busatto — O Sossella (inaudível). Sossella, Paulo Azeredo (inaudível). Mas, então, vou pensar no que nós conversamos e voltamos a conversar, ok?

Feijó — Ok.

Busatto — Obrigado pela tua ajuda.

Feijó — Tô sempre aberto.

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