6 de fev. de 2007

Sampa e José Serra no buraco!

AUSÊNCIA DE UM LÍDER PARA ESTA HORA
Paulo Henrique Amorim ( do BLOG CONVERSA AFIADA)
Máximas e Mínimas 96
. Ao fim do sexto dia da crise da cratera, o Governador do Estado de São Paulo disse três coisas:
. Primeiro, socorrer as vitimas.
. Segundo, a culpa é dos empreiteiros.
. Terceiro, temos que esperar o IPT. (*)
. O que aconteceu em São Paulo foi um crime.
. Praticado por seres humanos, que, se houver Justiça, pagarão por ele na cadeia.
. Foi um dos maiores acidentes de obra pública, produzido pelo homem, num grande centro urbano brasileiro.
. Que afeta o sistema de transportes de uma cidade que, todas as manhãs e todas as noites, corrói um pedaço de cada cidadão que vai e volta do trabalho.
. O que está em jogo é a segurança de TODO o trabalho de 13 km feito debaixo da terra, no coração da cidade, por empreiteiros que se revelaram ineptos.
. O que está em jogo é a coluna vertebral da ideologia do partido que governa São Paulo há doze anos e governou o Brasil por oito anos e, por muito tempo, embalou o sonho de fazer o Brasil "avançar" – como dizia Fernando Henrique Cardoso.
. O PSDB sem a privatização é o Catolicismo sem a Eucaristia.
. Torna-se o PFL de Higienópolis.
. O que está em jogo é o tipo de concorrência de "porteira fechada", o "turn key", que o Governador Geraldo Alckmin assinou e que delegou inteiramente às empreiteiras a gestão da coisa pública.
. É como se o subsolo da cidade de São Paulo pertencesse a um grupo de empresas privadas, que não precisavam dar satisfação a ninguém.
. E o Governador de São Paulo disse: a culpa é dos empreiteiros.
. Provavelmente é o que ele deseja. Porém, quem determina a culpa, numa democracia, é o Judiciário.
. Depois, Serra disse que o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) é que vai dizer o que aconteceu.
. É o que o Governador deseja.
. Problema numero um. O IPT é do Governo de São Paulo.
. Portanto, suspeito – o que não desmerece a qualificação e a probidade do IPT.
. Problema dois. Para o governador, o laudo do IPT é o que vai valer. Mas, não será necessariamente o laudo que vai valer para o Ministério Público; para a Polícia; para o Legislativo do Estado; a Imprensa; os banqueiros; as seguradoras; cada cidadão que for à Justiça reclamar seus direitos.
. O Governador Serra tem uma pequena dificuldade de entender que a democracia não é uma tirania – logo, o Executivo não é tudo.
. O laudo do IPT pode sair, se tudo der certo, em seis meses.
. Se sair antes, corre o risco de ser mal feito, como o trabalho de fornecedores da Linha 4, que queriam andar muito rápido para ganhar bônus.
. E o líder de São Paulo vai esperar seis meses para tomar uma atitude?
. E até lá, quem vai governar São Paulo? As emissoras de tevê?
. Como explicar o comportamento do Governador do Estado?
. Hipótese um: está difícil encontrar uma saída política que não jogue o PSDB de São Paulo (FHC e Alckmin e, portanto, Serra) no limbo político.
. Hipótese dois. Serra acredita que a eleição de 2006 foi a vingança de 2002.
. Ao se eleger Governador, na verdade, ele se elegeu o Presidente que não pode ser em 2002. E, por quatro anos, cumpriria a tarefa de Governar o Estado como governou a Prefeitura de São Paulo – como um obstáculo que se antepunha à ascensão à Presidência.
. Portanto, ele ainda estaria, psicologicamente, em 2002.
. Quando bastava ligar para a Globo, para a Folha e o Estado - e a crise da cratera sumiria em três dias.
. Dessa vez, aconteceu um imprevisto nos planos presidenciais: a Globo não está mais sozinha. A Record, desde domingo passado, puxou a Globo para a disputa pela cobertura da crise. E as duas puxaram o resto.
. Em 2006, não basta ligar para João Roberto Marinho, Ruy Mesquita e Otavio Frias Filho para conter a imprensa escrita.
. Em 2006, havia um bicho novo, que se chama internet, que se chama portal da internet, que se chama blog, que puxa a imprensa escrita – e não o contrário, como era em 2002.
(Uma dúvida: pode o PSDB de São Paulo sobreviver num ambiente com um pouco mais de liberdade de imprensa?)
. E tem a terceira hipótese, a mais trágica. Serra não seria o líder para essa hora.
. Serra é um economista/engenheiro.
. Não é um líder político. Não é um estadista.
. Entende tanto de liderança política quanto JK entendia de medicina.
. Serra não é o Rudy Giuliani do 11 de setembro.
. Esta hora é grave. A população de São Paulo olha para o céu, com medo da chuva, e, para baixo, com medo do que tem sob os pés.
. É um sentimento de medo primitivo, original.
. Mexe com as entranhas da comunidade, com sua sobrevivência.
. Nessa hora, a comunidade precisa de um líder.
. Depois da tragédia da Linha 4, Serra não esclareceu, não consolou, não conduziu, não inspirou, não deu esperança.
. Depois da bancarrota do Great Crash, ao assumir a Presidência dos Estados Unidos, em 1933, Franklin Roosevelt disse: "Não temos nada a temer, a não ser o próprio medo".
. Ao assumir o cargo de Primeiro Ministro, num gabinete de Guerra, em 1940, Churchill disse ao Parlamento: "Nossa política é fazer a guerra... Nosso objetivo é a vitória. Vamos juntos, para a frente, como uma só força".
. Ao assumir o Ministério da Justiça, em junho de 1953, Tancredo Neves disse: " ... sairemos depressa das dificuldades em que nos encontramos, pois nem tudo no nosso passado são erros. Nem tudo no nosso presente são vacilações, nem tudo no nosso futuro são incertezas".
. Três lideres.
(*) O Governo de São Paulo suspendeu o pagamento do trecho da obra que desabou. Foi uma decisão "administrativa" do Metrô, disse Serra. Quer dizer, diante da crise, uma única providência: burocrática, de Tesouraria. Serra disse também que só soube da decisão DEPOIS que tinha sido tomada. Esta afirmação é o equivalente ao trecho da nota das empreiteiras que põe a culpa na chuva.

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