8 de mar. de 2010

O PIG, movimenta-se e prepara um novo golpe.


Não é necessária nenhuma clarividência para se imaginar o que o PIG e a direta brasileira, farão. Tentarão de todas as maneiras descredenciar e desqualificar as conclusões da Conferência Nacional de Comunicação. Para tanto usarão todo seu poder de fogo. Programações, debates, colunistas, noticiários, comentaristas, animadores de auditório associados a nata da direita nacional; o patético Instituto Milenium.

Existe um texto que gosto muito que foi escrito pelo Historiador Décio Freitas (Encantado, 6 de setembro de 1922 — Porto Alegre, 9 de março de 2004) .

O Proteu brasileiro
por Décio Freitas


As elites nacionais exercem sua supremacia segundo técnicas e estilos peculiares – às vezes semelhantes, mas nunca idênticos. Substrato de experiências históricas cumulativas, as técnicas e os estilos oferecem em cada país um aspecto de impressionante continuidade e invariabilidade. No caso brasileiro, a técnica e o estilo são simbolizadas por Proteu, entidade mitológica que gozava de imenso poder sobre os homens. Para se libertar do seu jugo, eles precisavam destruí-lo. Ora, a passagem do tempo envelhecia Proteu, possibilitando sua supressão. Mas então ele se metamorfoseava. Na verdade, possuía o dom de se transformar em coisas muito semelhantes desejadas pelos homens. Dessa forma, Proteu remoçava-se e sobrevivia – perpetuamente.

Veja-se o elemento protéico na técnica e no estilo brasileiros. À vista da inapelável decrepitude da ordem colonial, a mesma elite que a servira por três séculos é que toma a iniciativa de promover a Independência. Depois, ela própria defendeu a escravidão contra tudo e contra todos – as insurreições negras e as pressões inglesas – e, quando farejou que a instituição caducara, apressou a mobilizar os donos de escravos para aboli-la. Monarquistas convictos proclamaram a República, quando perceberam a obsolescência do regime monárquico. A República, chamada oligárquica, carunchou em 40 anos. Aí, laureados políticos oligárquicos promoveram a transição da Revolução de 30, cujo remate foi a ditadura do Estado Novo. A perempção da ditadura levou seus condestáveis a substituí-la por um regime liberal-democrático. Assustados com as potencialidades emancipatórias do novo regime, providenciaram sua revogação através dum novíssimo regime autoritário. Exaurido este regime após mais de 20 anos, trataram de cancelá-lo.

Em cada crise histórica efetuaram-se as operações de transição – arriscadas e delicadas como o desmonte duma bomba-relógio – com mestria e tirocínio sensacionais. Bem, nesse caso, nada mudou? As metamorfoses de Proteu podiam não melhorar a vida dos homens tanto quanto desejavam, mas, de qualquer forma, sempre havia alguma mudança. Analogamente, nossas transfigurações institucionais introduziram algum tipo de mudança na vida das camadas subalternas em aspectos sociais, econômicos ou políticos. Só um sectarismo maniqueísta pode negá-lo. O ponto consiste no seguinte: as apropriações efetuadas pelas camadas subalternas em cada uma dessas transfigurações históricas sempre foram limitadas, com um saldo escassamente progressista e mesquinhamente libertário.
Não houve, em nenhum caso, mudanças revestidas da profundeza e amplitude capazes de criar uma sociedade de fato nova, segundo os interesses e as necessidades das camadas subalternas. As transfigurações serviram para bloquear mudanças perigosas à velha supremacia.

Trata-se de tipo especial de mudança – a mudança abortiva. O novo absorve o velho, isto é, supera-o e, ao mesmo tempo, conserva-o. A mudança implica permanência. O novo sistema, em lugar de eliminar radicalmente o antigo, incorpora-o em larga medida; repetindo-o no momento mesmo em que parece negá-lo. São mudanças a um tempo progressistas e retardatárias. Como resultado da conciliação do passado e presente, as desagradáveis feições do arcaísmo transparecem sempre através do belo disfarce da modernidade. Nas suas crises a elite se divide em tendências conflituosas, da mais conservadora a mais progressista. Mas na hora crucial, o metamorfismo se manifesta. As facções promovem composições baseadas em concessões recíprocas que salvaguardam o status quo. Os adverários de ontem se reúnem hoje em governos politicamente híbridos e promíscuos que apresentam dupla face – a do antigo e a do novo. Cria-se a sensação de que governos novos rejuvenescem uma sociedade arcaica.
Tudo se passa como se a elite brasileira houvesse assimilado uma lição de Maquiavel. Às vezes, escrevia ele, formam-se na sociedade paixões perigosas à estabilidade do Estado, convindo por isso dispor de válvulas de segurança que, uma vez abertas, possibilitam o extravasamento das paixões.

O nascimento desse estilo pode datar-se com exatidão no processo da Independência. Evaristo da Veiga, um dos virtuoses da política do império, pôde discerni-lo em 1831, quando uma frente ampla composta de ultraconservadores e ultraliberais levou-o a dizer que se tratava duma “liga de metais repugnantes”.

Este é o caso. Nossa história move-se num círculo vicioso marcado pela impotência transformadora. A ser verdade que o povo é o motor da história, como queria o filósofo de Tréveris, não há como fugir à conclusão de que o povo brasileiro é um motor em ponto morto. Será que nas últimas eleições houve mais uma vez apenas uma mudança de pele?


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O Pig fantasiada de Proteu, desfilará falsamente pelas telinhas das TVs, páginas de revistas e jornais, defendendo a democracia e a “liberdade de imprensa”.

E a guerra recomeçou!

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