Por Gustavo Bernardes¹
Imagem: Latuff Brasil
As igrejas evangélicas neopentecostais se especializam cada dia mais em realizar discursos que inculcam o terror nos seus fiéis. Seus pastores e ministros afirmam em suas pregações que a concessão de direitos às minorias causará o fim da família. Esse tipo de discurso tem duas consequências: incentivam a violência contra as minorias e tornam o voto nos candidatos da igreja uma obrigação, já que o voto do fiel evitará a concessão de direitos às minorias e consequentemente salvará a família dele.
A igreja sabe que a concessão de direitos às minorias não irá acabar com a família. Na década de 1970 se dizia que o divórcio acabaria com a família, o que não aconteceu. Os evangélicos neopentecostais também sabem que a bíblia tem muitas contradições e não pode ser interpretada literalmente, portanto ninguém pode afirmar que a bíblia é contra os direitos das minorias. Então, por que as igrejas, em especial a evangélica neopentecostal, continua a se posicionar contra os direitos de minorias como LGBT e mulheres?
Logicamente, uma das respostas para essa questão é a fidelidade dos crentes no momento do voto. Essa fidelidade cria uma bancada de parlamentares nas câmaras municipais, assembleias legislativas, câmara federal e senado federal, também fiel aos interesses da igreja. Mas não é só a fidelidade do voto do crente que cria a fidelidade do parlamentar. O financiamento de parlamentares pelo dízimo imune de impostos das igrejas também estimula a fidelidade parlamentar.
Mas qual a necessidade de tanta fidelidade por parte dos parlamentares? Somente a manutenção da imunidade fiscal das igrejas já seria motivo suficiente para justificar tanto esforço e investimento, mas, há muitos outros interesses como, por exemplo, a necessidade de impor a moral de um determinado grupo religioso para a totalidade dos brasileiros aumentando a influência das suas igrejas e interferindo nas questões estatais que deveriam ser laicas.
Mas o terror praticado pelas igrejas junto aos seus fiéis para atingir aos seus fins também se reproduz nos espaços do Poder Legislativo. Os representantes das igrejas nas casas legislativas perceberam que o mesmo artifício do terror utilizado nos cultos poderia ser utilizado na Câmara Federal, por exemplo. Ao assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal em 2013 o Pastor Marco Feliciano colocou em pauta a chamada “cura gay” e o fim dos benefícios previdenciários para casais do mesmo sexo causando medo e insegurança na sociedade em geral e na população LGBT em específico.
Esse tipo de atitude terrorista tem como consequência esse sentimento de medo e insegurança que mencionei acima, mas também, essa comoção, gera uma grande atenção por parte da mídia o que acaba por fortalecer a posição desses parlamentares perante a base aterrorizada deles nas suas igrejas. Ou seja, esse tipo de comportamento gera votos, que o digam Jair Bolsonaro e o próprio Marco Feliciano.
A recente tentativa da “bancada evangélica” em novamente assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal visa mais uma vez a atenção da mídia e em causar dor e sofrimento às minorias e defensores de direitos humanos. A Comissão de Direitos Humanos, infelizmente, não é uma comissão importante dentro da Câmara Federal como, por exemplo, a Comissão de Constituição e Justiça. Dificilmente os projetos discutidos na Comissão de Direitos Humanos e Minorias são terminativos. Mesmo assim, ela é um símbolo importante para os movimentos de Direitos Humanos e não tem importância nenhuma para a “bancada evangélica” a não ser atrair a atenção da mídia e aterrorizar os militantes de Direitos Humanos.
Mas como enfrentamos esse clima de terror causado propositadamente pelos integrantes da “bancada evangélica”? Primeiramente denunciando as tentativas desses setores de incutir medo e insegurança na sociedade ou em setores da sociedade. Também precisamos conhecer o funcionamento do Congresso Nacional para que tenhamos a exata medida dos prejuízos que efetivamente teremos. Também é necessário que façamos um monitoramento dos cultos evangélicos na televisão. Precisamos denunciar o discurso do terror através de uma concessão pública de TV. Precisamos sair da defensiva e unir todos os setores aterrorizados pelos bem organizados terroristas. Também precisamos definir uma estratégia para evitar dar visibilidade para esses setores.
1 Advogado, especialista em psicologia social pela UFRGS, ex-coordenador geral de promoção dos direitos de LGBT da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, ex-presidente do Conselho Nacional LGBT.
Um comentário:
vaitomanoku tá todo mundo errado nessa merda
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