25 de jul. de 2010

Por que o Rio Grande do Sul é assim - Parte 1


Se aproxima o dia 20 de setembro, data que marca o início da chamada revolução Farroupilha, no distante ano de 1835. Para quem não conhece o Rio Grande e Porto Alegre, essas informações soam mais distantes ainda.

Mas aqui neste blog, nos próximos dias, vamos tentar decifrar esses códigos da cultura gaucheira, esses constructos culturais cuidadosamente recortados da história factual e montados num painel mítico que representa a apropriação do imaginário popular dos indivíduos nascidos no Estado mais meridional do Brasil e , não por acaso, o que apresenta idiossincrasias especiais e um etos social muito particular, rico, variado, objeto da contribuição de inúmeras etnias – autóctones e transplantadas.

Mirabeau, um dos teóricos da revolução Francesa de 1789, dizia que não bastava mostrar a verdade, é necessário fazer com que o povo a ame, é necessário – dizia o “Orador do Povo” – apoderar-se da imaginação do povo. Não foi de graça, então, que a seção de propaganda do Ministério do Interior, em 1792, em plena ebulição revolucionária, se denominava Escritório do Espírito.

Pois, essa apropriação da imaginação popular foi – parcialmente – exitosa por parte dos maragatos (ideologia do latifúndio) sul-riograndenses, especialmente a partir da segunda metade do século 20. Alguém pode perguntar o motivo de ter passado tanto tempo, de 1835-45 até meados do século passado, por que? Por que o mito levou tanto tempo para “apoderar-se da imaginação do povo”?

E outras questões: por que no RS se festeja, se comemora uma derrota, sim porque os farroupilhas de 1835 foram derrotados durante dez longos anos pelas tropas do Império do Brasil, por que? Outra: por que o RS comemora o 20 de setembro e não comemora o 14 de julho? Sabendo-se que foi no 14 de julho de 1891 que a Assembléia Constituinte sul-rio-grandense deu posse a Júlio Prates de Castilhos como primeiro Presidente (hoje é governador) eleito no RS, e podese dizer que este é o marco da única revolução burguesa clássica havida no País.

Nenhum Estado federado e nem o próprio Brasil teve uma revoluçãomodernizante como o Rio Grande do Sul, através dos positivistas chimangos de Castilhos, e depois através de Borges de Medeiros, pelo menos até 1930, quando se encerra o ciclo modernizante inaugural da transição para o capitalismo nesta região meridional.

Por que a burguesia gaúcha, a direita guasca, comemora uma derrota – a farroupilha – em vez de comemorar uma vitória – a da revolução cruenta de 1893? Intrigante, não?

E uma última questão, pelo menos por hoje, para iniciar esse tema tão apaixonante e que explica bastante o Rio Grande atual e o Brasil lulista (que quer copiar um pouco o ciclo desenvolvimentista de Vargas, que por sua vez bebia na fonte dos chimangos de Castilhos-Borges), por que aqueles que foram derrotados fragorosamente em 1893, na revolução burguesa gaúcha, hoje, são hegemônicos no plano político-eleitoral do Estado e logram êxito no objetivo original de Mirabeau no sentido de terem se apoderado da imaginação popular através de batalhas de símbolos, batalhas midiáticas, cevadura de ideologias, montagem de mitos, bombachas e tradicionalismo galponeiro, por que?

O Rio Grande do Sul tem uma história muito expressiva, tão expressiva quanto o “riso” macabro dos degolados de 1893, dos “engravatados” de 1923 (a “gravata” era a língua exposta da vítima, por baixo e através do largo talho horizontal do corte da lâmina branca), e de uma revolução positivista-burguesa que ousou estatizar empresas estrangeiras ainda em 1920, que cobrou impostos de latifúndio em 1895 e que escolarizou todo o Estado, ainda no início do século 20.

Vamos ver tudo isso, aqui no blog, a despacito no más, um pouco a cada semana.

Texto de Cristóvão Feil (http://www.diariogauche.blogspot.com/)

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A Carapuça concorda em 110% com o conteúdo deste e dos demais textos que seguirão, e que já foram publicados no blog Diário Gauche...

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara,vocês precisam entender que pra nós,que gostamos da nossa estória,perdernão é vergonha,vergonha é não lutar. E mais vergonhoso ainda é tentar passar os que lutaram por anti-heróis,por não terem matado tantos quantos fossem necessário pra vencer. Isso é COVARDIA de quem não desprega a bunda da cadeira contra quem ao menos reconhece quem um dia desprendeu as suas,mesmo podendo viver ricamente,par lutar pelo que julgava ser o melhor pra todos. Eu,por exemplo,sou da terra do que foi um dia chamado de Barão de Mauá,que morreu pobre por se meter contra o império. Daí vou dizer que o tal era um idiota,ou alguém que preferiu lutar pelo que acreditava. Talvez tenha que o considerar ambos,num tempo em que se endeusa um bando de porcos que vão á rua lutar pelos 'seus direitos' " civis e acham que os de tempos remotos devem serem chamados do que saõ eles: PORCOS.